Hospital Ana Costa quer ampliar alcance de sua equipe de cuidados paliativos para ajudar mais pacientes e familiares
Santos (SP), novembro de 2020 – Desde 2018, o Hospital Ana Costa conta com uma equipe de cuidados paliativos, formada por nutricionista, psicólogo, farmacêutico, médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, enfermeiro e assistente social, que atua na melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves. Mais de 100 pacientes e familiares já foram atendidos, mas o objetivo da unidade é ampliar o alcance desse trabalho para ajudar o maior número de pessoas.
Um dos fatores chaves é o convencimento das famílias, abordagem feita pelos profissionais de saúde que devem estar aptos a conversar com pacientes e familiares a respeito. Por isso, nos dias 26 e 27 de outubro, o Hospital Ana Costa realizou diversas ações de conscientização para que suas equipes pudessem tirar dúvidas e atuar na identificação de casos. A médica Tathiana Antonelli Pereira, plantonista da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Ana Costa, compõe a equipe de cuidados paliativos e diz que ter profissionais dedicados a tratar desses assuntos é uma forma de humanizar o atendimento por meio do acolhimento.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Hospital Geral de Massachusetts em conjunto com a Universidade Estadual de Nova Iorque, o Departamento de Anestesiologia do centro de medicina da Universidade Columbia, em Nova Iorque e a Universidade Yale, em New Haven, os pacientes que foram atendidos com cuidados paliativos precocemente tiveram uma melhor qualidade de vida do que os pacientes designados para cuidados padrão. Além disso, menos pacientes no grupo de cuidados paliativos tiveram sintomas depressivos e a sobrevida média foi maior. Embora os resultados sejam positivos, ainda há muita resistência. De acordo com Tathiana, ao abordar o paciente e os familiares, é preciso desmistificar diversas questões. Mas depois que eles entendem como a equipe de cuidados paliativos atua e como podem ajudar, se sentem mais seguros e confortáveis para pensar sobre como gostariam de conduzir o fim da vida.
A especialista alerta para a importância de dar autonomia ao paciente para que ele pense e defina sobre questões que vão desde a manutenção dele em respiradores por tempo indeterminado até a doação de órgãos. “São inúmeras as possibilidades de complicações para quem tem uma doença em estágio avançado e sem chance de cura. Assim como para quem vai se submeter a uma cirurgia, por exemplo. Mas não é apenas no ambiente hospitalar que essa conversa se faz necessária, pois podemos sofrer um acidente no caminho para o trabalho e ficar impossibilitado de tomar decisões. Não falar sobre o que se quer é uma forma de negar o que é inevitável”, reforça.
Tathiana diz que muitas pessoas acham que apenas os idosos irão precisar da equipe de cuidados paliativos. Juliana Oliveira é um exemplo de que essa constatação não representa a realidade. Aos 27 anos de idade, ela recebeu o diagnóstico de um câncer metastático. “No começo, eu fiquei bastante assustada, achei que era o meu fim. Mas depois eu entendi que cuidados paliativos são cuidados extras que me ajudaram a compreender que é possível viver com uma doença que não tem cura. Eu sou casada, levo uma vida normal e aproveito muito cada momento”, relata Juliana, paciente oncológica do Hospital Ana Costa. “Sou uma grande incentivadora da vida e estou sempre lembrando as pessoas próximas a mim sobre o valor de cada dia”, conclui.
A psicóloga do Hospital Ana Costa, Bruna Louise, diz que, ao falar na possibilidade de morte, as pessoas costumar bater na madeira três vezes para afastar qualquer mau presságio. De acordo com ela, esse é um comportamento cultural que precisa aos poucos ser modificado, pois é importante falar no assunto de forma mais natural, considerando que essa é a única certeza que temos. “As crianças são induzidas a terem medo do assunto desde pequenas e a morte pode trazer grandes traumas. Por isso, sugerimos educá-las de forma diferente, trazendo pontos de vista mais realistas sobre a vida, contudo respeitando o entendimento delas. Os meios lúdicos sempre ajudam muito nesse processo. Mas, pela minha experiência, as crianças entendem melhor do que os adultos quando eu os abordo com essa finalidade”, explica Bruna.